Entrevista: Educação se faz a várias mãos
Lugar comum em diversos segmentos é afirmar que falta mão de obra qualificada para atender o desenvolvimento da economia. Embora seja uma realidade comprovada, o que está sendo feito para mudar esse cenário? Segundo Jerri Ribeiro, sócio da PwC, network que presta serviços em auditoria, consultoria tributária e de negócios em 158 países, as ações devem ser conjuntas, alinhando instituições de ensino, empresas e governo. Além disso, precisam pensar em curto, médio e longo prazo, ou o problema não terá solução.
Jerri Ribeiro – Em curto prazo, em um intervalo de até um ano, pouco se pode fazer de fato. Em médio prazo existem algumas ações interessantes por parte de governos, empresas e instituições de ensino. Porém, é preciso pensar em longo prazo, pois mesmo estas ações mais próximas não terão o efeito desejado para eliminar o déficit de mão de obra de qualidade. Como frisei, são ações interessantes, mas ainda insuficientes. De acordo com a nossa 15ª Pesquisa Global CEO Survey, realizada todos os anos pela PwC, 77% dos CEOs pretendem expandir operações na América do Sul aumentando ainda mais a possibilidade de um colapso de talentos. Ou seja, o Brasil, em particular, é um destino de investimentos e, segundo nossa perspectiva, até 2020 continuaremos com carência de talentos em áreas específicas, como a de TIC. Para longo prazo, é preciso criar mecanismos de governo que incentivem empresas a criarem programas de estudo. Também é necessário aumento do número de vagas para ensino técnico e para formação de engenheiros em todas as áreas.
A Melhor Escolha – As instituições de ensino, governo e empresas estão fazendo sua parte?
Jerri Ribeiro – As empresas viviam um cenário de extrema volatilidade até 15 anos atrás. Portanto, culpá-las por não investir em qualificação profissional é desconhecer uma realidade com a qual convivemos, sem muitos problemas, até muito pouco antes da globalização de mercados e do, digamos assim, novo mundo onde os BRICs tem real poder econômico. Avalio que instituições de ensino e governos demoraram um pouco a perceber a mudança de paradigma da economia e os novos desafios. Algumas instituições até hoje insistem em não enxergar este novo mundo. Vejo que é necessário repensar o que queremos ser como País. Chamo a atenção para os Estados Unidos. Certamente, já não são mais uma economia industrial, com boa parte de seu parque fabril desmontado e transferido para a China. Porém, são, atualmente, um exemplo de economia do conhecimento, com novos polos despontando em diversos outros pontos. Além, claro, dos já famosos Vale do Silício e da região de Boston com seu MIT. É isto que é preciso definir para darmos o salto qualitativo.
A Melhor Escolha – Até que ponto a carga tributária freia o desenvolvimento das empresas e dos mercados?
Jerri Ribeiro – É fato que o Brasil tem uma das maiores cargas tributárias do mundo. O problema é que ela não vem sozinha. Temos alta carga tributária, alto custo trabalhista, problemas logísticos, excesso de burocracia e falta de mão de obra qualificada. Ou seja, temos um cenário bem difícil para praticar o empreendedorismo. Claro que isto retrai investimentos ou os exporta para outros países. Mas, nem tudo é notícia ruim. Temos bons exemplos, boas empresas e conseguimos ser competitivos em diversas áreas. No setor de TI temos excelência na América Latina e alguns players já estão com estruturas no exterior para continuarem sendo competitivos globalmente.