A terceira plataforma da TI
Por Kamila Schneider*
Hiperconectados. Uma palavra capaz de definir, sem delongas, o que somos e para onde caminhamos. Talvez seja muita pretensão querer dar a um termo a missão de descrever o comportamento de toda uma sociedade, mas a verdade é que, em suma, esta expressão simboliza o âmago do que nos tornamos: seres conectados, a toda a hora e lugar, para gerar, comentar e compartilhar informações e relacionamentos. Vivemos uma espécie de “nova era da TI”, que modifica, gradativamente, a maneira como nos relacionamos com a tecnologia e, principalmente, o modo como a tecnologia afeta o nosso cotidiano.
Chegamos à chamada terceira plataforma da TI. Após as duas primeiras plataformas — representadas pelos mainframes e, mais tarde, pelos PCs —, a terceira plataforma agrega de maneira inovadora serviços de nuvem (cloud computing) e aplicações de mobilidade, além de compreender os fenômenos do big data (soluções capazes de lidar com o grande volume de dados digitais) e das chamadas tecnologias sociais (social business). No aspecto pessoal, a atuação destas forças está refletida no uso crescente de smartphones, aplicativos, redes sociais e servidores online. No aspecto mercadológico, no entanto, elas despertam a atenção para o fato de que apesar de a essência do mercado não mudar — criar soluções a partir de necessidades —, existem novos caminhos para descobrir estas necessidades.
“A terceira plataforma é um olhar para o mundo, é a TI caminhar junto com o mundo. Não se trata de modismo. Isso já acontece e, daqui pra frente, só vai aumentar”, afirma o gerente de pesquisa e consultoria da IDC Brasil, Anderson Figueiredo. Para ele, a terceira plataforma já não representa mais o futuro, e sim uma realidade. “Trata-se de uma mudança financeira, tecnológica e comportamental, do ponto de vista da TI. Caminhamos para uma realidade sem dispositivos, não porque eles vão deixar de existir, mas porque já estão tão presentes em nosso cotidiano, que atuam como extensão de nossos corpos”, vislumbra Figueiredo. A previsão já tomava conta dos estudiosos quando o filósofo e educador canadense Marshall McLuhan publicou, em 1964, o livro “Os meios de comunicação como extensões do homem” (No Brasil, publicado pela Editora Cultrix, em 1969, com tradução de Décio Pignatary).
Armazenamento
Em resumo, a grande mudança que permeia a terceira plataforma é a nuvem, que abre um leque de possibilidades em termos de armazenamento, rapidez, segurança e mobilidade da informação. “As indústrias perseguem de forma contínua a redução de custos, o aumento de produtividade e o aumento de vendas. Dentro destes três objetivos, questões como obilidade e o grande volume de informações exigem uma infraestrutura flexível e que se compatibilize mais rápido com as necessidades das empresas”, explica o executivo de desenvolvimento de novos negócios da IBM Brasil, David Dias. “Cerca de 70% das organizações já utilizam a nuvem, talvez não em toda a sua operação, mas parte dela sem dúvida já está neste modelo”. A utilização da nuvem como serviço é talvez uma das mais promissoras transformações impulsionadas pela nova plataforma. Conforme o vice-presidente para a América Latina da MicroStrategy, Flávio de Andrade Bolieiro, a nuvem é uma espécie de terceirização do parque tecnológico. “Posso adquirir novas aplicações em nuvem sem ter o custo de ter o equipamento dentro de casa”, destaca. Conforme Bolieiro, a alta quantidade de dados armazenados, frutos do big data, despertam a necessidade pela nuvem, mais rápida, segura e barata do que o armazenamento interno.
“Estas forças se combinam para criar um poderoso
cenário de trabalho e negócios. Não são as ferramentas
e os comportamentos que interferem no
trabalho diário das companhias, mas o contrário”.
(Chris Howard, vice-presidente e chefe de pesquisa do Gartner)
Cultura
Mais do que uma renovação tecnológica, a terceira plataforma representa uma mudança cultural. Segundo o vice-presidente e chefe de pesquisa do Gartner, Chris Howard, o conhecido Nexus das Forças (termo utilizado para representar as quatro forças convergentes) está enraizado no comportamento humano, que se utiliza de dispositivos para facilitar interações com pessoas e informações. Quando aproveitadas corretamente, destaca Howard, estas forças podem criar um poderoso cenário de trabalho e negócios. O desafio está, então, em mudar a mentalidade de que é preciso controlar o comportamento dos usuários e, ao invés disso, observar e se adaptar a ele: “Se esse usuário é um empregado, isso significa permitir que ele escolha um ecosistema de dispositivos, aplicações, redes e informações que o torne mais produtivo e engajado. Se uma organização não está preparada para permitir essa autonomia, ela eventualmente ficará no caminho das tarefas de valor. Desta forma, não são as ferramentas e os comportamentos que interferem no trabalho diário das companhias, mas o contrário”, aponta Howard.
A segurança é outro aspecto importante– de acordo com Bolieiro, da MicroStrategy, ainda há receio em investir na nuvem pelo antigo tabu de que o que é importante deve ficar “em casa”. “Na época do meu avô, o dinheiro era guardado embaixo do colchão. Quando surgiu o banco, então, houve certa resistência. No fundo é a mesma analogia, só que hoje vou entregar meus dados para um terceiro cuidar”, exemplifica. “Pesquisas indicam que a maioria dos problemas de segurança são causados por pessoas. Por este ângulo, entregar um dado para alguém especializado é uma opção vantajosa”.
Tecnologia
O fato é que, aos poucos, a tecnologia se torna mais acessível e intuitiva, o que tende a facilitar o processo de mudança, aponta Dias, da IBM. “Existe sim um atrito quando saímos de um modelo e entramos em outro”, diz. “Toda a nova tecnologia pressupõe um acúmulo de aprendizado paralelo à sua curva de adoção. Essa curva de aprendizado está diminuindo com o tempo — nota-se isso, principalmente, pela velocidade como as redes sociais e ferramentas mobiles são facilmente adotadas”.
Conforme Anderson Figueiredo, da IDC Brasil, no país as empresas já compreendem bem a importância da terceira plataforma, mas possuem dois grandes problemas relacionados a ela: a falta de conhecimento ao interagir com o consumidor pela internet; e o despreparo para lidar com a infinidade de informações que geramos e incorporar soluções que ajudem na leitura destes dados. “É preciso ter em mente que acompanhar esta mudança é fundamental, quem não pensar nisso está fadado a desaparecer”, destaca. “Há dificuldades, mas a informação é primordial, mesmo num mundo louco que gera informação a todo segundo”.
As quatro forças
Os avanços dos fenômenos digitais que integram a terceira plataforma da TI:
NUVEM
Em 2012, os gastos com servidores de TI de Cloud Pública alcançaram mais de US$ 40 bi, devendo se aproximar dos US$ 100 bi até 2016. Conforme a IDC, 75% dos bancos globais têm a infraestrutura “em produção” para suportar o consumo de cloud em 2016.
TECNOLOGIAS SOCIAIS
O social torna-se uma nova interface do usuário para a empresa. Levantamento da Social-Base indica que as intranets corporativas estão cada vez mais voltadas à interação e à troca de experiências entre usuários.
MOBILIDADE
A pesquisa CIO Mobility Survey indica que 79% dos líderes de TI enxergam a mobilidade como um gerador de receita. Nos próximos anos, os pagamentos móveis globais devem ultrapassar US$ 1,3 trilhão, aponta a Anti-Phishing.
BIG DATA
As tecnologias do big data e do mercado de serviços vão alcançar US$ 16 bilhões até 2016. De acordo com a IDC, os serviços para big data registrarão expansão de 21,1% entre 2012 e 2016.
*Originalmente publicado na Revista Interface.