Nenhuma empresa está imune a incidentes, o que exige um olhar atento e a definição de normas claras para evitar acidentes e o desenvolvimento de hábitos para preservar o bem-estar de colaboradores.
Em 2024, o Brasil registrou 724 mil acidentes de trabalho, e quase três quartos deles (72%) resultaram em afastamentos superiores a 15 dias. Desde 2012, foram registrados 8,8 milhões de acidentes em empregos formais, de acordo com o Observatório de Saúde e Segurança do Trabalho. Esses números, por si só, já mostram a importância da cultura de segurança no trabalho.
Afinal de contas, nenhuma organização está imune a incidentes. É possível, porém, investir em estratégias específicas para diminuir a probabilidade deste tipo de ocorrência. As empresas de vanguarda sabem que a melhor forma de reduzir riscos não é apenas cumprir normas, mas sim desenvolver uma cultura de segurança organizacional sólida, contínua e engajadora.
Superar este desafio se torna mais simples quando há engajamento de toda a empresa – inclusive das lideranças – e o investimento em tecnologias voltadas à gestão de riscos, trazendo um olhar especializado para a segurança corporativa.
O que é cultura de segurança no trabalho?
A cultura de segurança no trabalho engloba o conjunto de valores, práticas e comportamentos que guiam colaboradores e gestores a colocar a segurança em primeiro plano. Ela costuma se apoiar em três pilares:
– Normas claras e transparentes: devem ser alinhadas às exigências legais e à realidade da operação, considerando o segmento de atuação, o porte do negócio e a rotina dos colaboradores.
– Padrões de comportamento: decorrem da capacitação, da orientação e do monitoramento em prol de uma melhoria contínua.
– Criação de hábitos de segurança: o objetivo é que as equipes transformem as boas práticas em rotina.
Quando bem implementada, a cultura de segurança organizacional reduz riscos, melhora a qualidade das operações, aumenta a satisfação de colaboradores e clientes, diminui custos com indenizações e ainda fortalece a reputação da empresa, além de enquadrá-la aos princípios de ESG.
Mais importante: essa cultura de segurança também traz segurança e procedimentos claros no caso da ocorrência de algum acidente. Dessa forma, toda a equipe está preparada para evitar, mas também para lidar com os casos em seu estágio inicial.
Como implementar a cultura de segurança?
A construção de uma cultura de segurança no trabalho exige estratégia, disciplina e engajamento de toda a organização. Alguns passos fundamentais são:
1. Realize uma análise de risco
Elabore uma matriz de riscos, priorizando as atividades mais críticas e que devem ser atacadas em primeiro lugar. Com isso, torna-se mais simples avaliar as ameaças e seus impactos em produtividade, continuidade operacional e bem-estar dos colaboradores.
2. Defina as normas de segurança
Adapte as regras às características do setor, às operações e à legislação. Dessa forma, garante-se conformidade com a legislação. É importante que este cuidado se traduza em orientações claras para todos os times.
3. Faça inspeções regulares
Adote auditorias periódicas para verificar aderência às normas por parte das equipes. A gestão da cultura de segurança nunca é estática: por isso, revise as práticas constantemente.
4. Invista em tecnologia
Ferramentas digitais são grandes aliadas para padronizar processos, evitar falhas e monitorar resultados. Algumas soluções específicas contribuem para o desenvolvimento e o monitoramento da cultura de segurança:
– Padronize inspeções e rituais com checklists digitais. Soluções de gestão de rotinas tornam este trabalho mais eficiente.
– Invista em um sistema de controle de acesso a áreas críticas, garantindo que os colaboradores tenham autonomia, mas respeitem os seus privilégios de segurança.
– Garanta conformidade de prestadores com uma boa gestão de terceiros, reduzindo os riscos de passivos trabalhistas.
– Monitore indicadores de cultura de segurança em tempo real, o que é mais eficiente com a criação de um ecossistema específico por meio de um security hub.
5. Implante treinamentos contínuos
Desenvolva programas voltados à capacitação, estimulando boas práticas e comportamentos seguros. Atue em conjunto com marketing e comunicação para elaborar campanhas internas e aumentar o engajamento.
6. Defina um plano de ação
É possível inserir um sexto passo, que envolve o estabelecimento claro de um plano de ação para os incidentes mais prováveis. Dessa forma, as medidas iniciais já estão definidas para cada time responsável.
Plano de 30-60-90 dias
Essas 6 fases são uma visão holística sobre a gestão de riscos e segurança. Deve-se transformá-la em um plano de ação capaz de entrar em vigor em até 90 dias:
– 1º mês: foque em identificar riscos prioritários a partir de um mapa de risco e crie normas claras.
– 2º mês: inicie treinamentos, implemente checklists de segurança no trabalho e regras de auditorias, com prazos estabelecidos de implantação.
– 3º mês: consolide indicadores, corrija falhas e expanda as práticas para todas as áreas.
Antes de executar de fato este plano, é possível realizar um programa-piloto em um setor específico para identificar as principais dificuldades e ajustá-las antes de aplicá-la a todo o negócio.
Qual é o papel da liderança na cultura de segurança?
Uma cultura de segurança deve ser instituída a partir do exemplo dos líderes. É muito difícil atingir um bom resultado sem que haja uma participação ativa dos gestores.
Seu papel é estar presente em treinamentos e adotar os cuidados em sua rotina. Sua atuação deve preservar a saúde e o bem-estar dos colaboradores. Para instituir uma cultura de segurança plena, é preciso que toda a equipe esteja engajada e informada, o que requer uma atuação conjunta com as áreas de Comunicação e Marketing.
Isso precisa envolver o investimento em tecnologias efetivas e que sustentem as boas práticas de cuidado com o bem-estar. É a participação ativa dos líderes que reduz a resistência às mudanças, tornando as boas práticas de segurança parte da rotina do negócio.
Como a cultura de segurança impacta a produtividade?
Embora a prioridade seja proteger as pessoas e garantir a prevenção de acidentes, a cultura de segurança nas empresas gera ganhos mensuráveis de produtividade. A começar por um menor número de paradas inesperadas: inspeções e manutenções preditivas e preventivas reduzem falhas operacionais.
Um segundo ponto é um maior controle de qualidade. Processos seguros evitam erros que comprometem produtos e serviços. Em muitos casos, os cuidados com a segurança podem ser associados a um Sistema de Gestão da Qualidade, ampliando também a competitividade dos negócios.
Uma diminuição de incidentes significa menos afastamentos, indenizações e passivos, o que também fortalece a reputação do negócio. Colaboradores, clientes, parceiros e fornecedores valorizam empresas que priorizam segurança. Ou seja, investir em uma cultura de segurança é uma decisão de negócios estratégica.
Com normas claras, liderança engajada, treinamentos contínuos e tecnologia, é possível transformar a segurança em hábito. E, ao adotar um plano objetivo, as empresas conseguem evoluir de forma rápida, estruturada e mensurável, obtendo ganhos efetivos.