O executivo Marco Ornellas questiona os profissionais de Recursos Humanos ao propor um novo olhar para a carreira, voltado ao design, que deve impactar a forma como é feita a gestão de pessoas nas organizações
Formado em Psicologia, Dinâmica dos Grupos, Coaching e Design Thinking, o executivo Marco Ornellas esteve na Senior para uma conversa com os profissionais de Recursos Humanos da região de Blumenau (SC), no encontro Confraria de Gestores, promovido pela ABRH-SC.
Vista como burocrática e operacional, a área de Recursos Humanos patina na criação e adaptação de programas e práticas de gestão de capital humano capazes de atender às demandas desse novo mundo complexo que vivemos. E as consequências são assustadoras: de executivos frustrados, sem saber para onde correr, a um futuro colocado em xeque pela morosidade, desarmonia e incoerência de um modelo falido de gestão de pessoas nas organizações.
Em seu livro “DesigneRHs para Um Novo Mundo”, Marco Ornellas traz um diagnóstico, traçado a partir de extensa pesquisa e entrevistas, e apresenta uma nova identidade ao profissional de RH e, em sua palestra “Como Transformar o RH em Designer Organizacional”, compartilha essa sua jornada, experiências e posicionamento.
De acordo com o profissional e com base nos estudos de Humberto Maturana e Ximena Davila, o RH está passando da era da cegueira e da certeza de que podemos fazer tudo o que imaginamos ser possível para uma era da consciência sobre o que se faz, como se faz e os seus resultados; da era da dor e do sofrimento pela manipulação, pela desonestidade, pelo desrespeito por si e pelo outro para uma era da cultura do bem-estar e da harmonia entre a biosfera e a antroposfera, a partir do amor, o principal fundamento humano; da era quando entregamos aos cientistas, políticos e empresários o poder da onipotência, confiando a eles até mesmo a nossa capacidade de realizar para a era do abandono ao que se sabe ou o que se pensa que se sabe como verdade absoluta e a construção e responsabilidade coletiva.
Ornellas, ao afirmar que somos equilibristas em um mundo complexo, provoca os profissionais da área ao questionar:
– Quem aqui se sente realizado em trabalhar em RH?
– Quem aqui está satisfeito com o que entregamos em RH?
– Quem acha que nossos clientes estão satisfeitos com o que entregamos em RH?
Para Ornellas, os modelos e práticas estão sendo colocados em xeque e a questão não é mais de adaptação, mas a construção de um novo posicionamento capaz de atender ao contexto hoje e no futuro. “Afinal, em 10 anos, 40% das empresas da Fortune 500 não vão mais existir, de acordo com Salim Ismail, da Singularity University”, afirma o autor.
90% dos CEOs buscam inovação e transformação digital
70% dos líderes atuais não são capazes de liderar na era exponencial
Fonte: Jaqueline Weigel
A transformação na gestão de pessoas é necessária. O mundo complexo pede diálogo genuíno, respeito ao diverso e outras perspectivas, abandono das certezas, curiosidade para o novo, abrir discussões com grandes grupos, identificar padrões e revisitar a estrutura organizacional.
Por isso, é preciso fazer escolhas também na gestão de pessoas nas organizações. “Nossas empresas carregam em suas estruturas modelos antigos que primam por comando e controle, baixa participação, ausência de responsabilidade. E os modelos de RH sustentam esse ambiente”, alerta o palestrante, afirmando que esta realidade promove práticas que administram prêmios e castigos, valorizam argumentos racionais, definem condutas que limitam a criatividade e a inovação e aniquilam a capacidade de as pessoas criarem vínculos, pensar, desejar, refletir e agir.
“Mais de 50% dos principais executivos de RH não sentem confiança nas estratégias adotadas até o momento. O campo visual na velha estrada é míope e torna quase impossível entender as nuances desse mundo disruptivo e caótico. Existe uma visão quase unânime dos líderes de RH, que entrevistei, sobre a falência do modelo atual de governança”, conta.
Mas… como mudar a gestão de pessoas nas organizações?
“É urgente sairmos dessa bolha”, diz Ornellas.
As práticas presentes hoje são percebidas como sem utilidade ou valor. Elas devem ir além dos objetivos da empresa. É notório que não respondem mais aos desafios da organização de hoje e são incapazes de fazer a ponte para o futuro.
A comunidade de RH se divide entre os que negam a realidade, os que resistem ao novo e os que estão interessados em saber o que fazer. E são os designers que estão fazendo o futuro hoje. E fazem isso porque conseguem administrar um novo mindset.
“O designer romper essa bolha, abandonando o mindset viciado daquele profissional estagnado e tornando a empatia, a colaboração e a experimentação os seus core skills”, entusiasma-se Marco Ornellas.
“O olhar empático nos permite atacar um problema utilizando novos pontos de vistas e, com isso, trabalhar em ideias que não estão disponíveis”.
Luis Alt & Tennyson Pinheiro
A colaboração pressupõe diálogo e a construção de uma solução em conjunto. Neste sentido, Ornellas questiona: “Quando foi a última vez que criamos um programa, processo ou política com outras pessoas de fora do RH?”
Para o palestrante, é na experimentação que reside o maior dilema. “As pessoas tendem a acreditar que a experimentação pressupõe o fracasso. Acontece que o fracasso faz parte do sucesso”, alerta.
A cultura e as práticas de nossas empresas permitem espaço para o erro? A grande importância do designer reside precisamente em sua capacidade de fazer pontes e criar relações num mundo esfacelado pela especialização e fragmentação dos saberes. “Designer é aquele que desvia o curso das ações para transformar situações existentes em preferidas. É o profissional curioso que enxerga os problemas complexos como parte de seu dia-a-dia, explorando cenários, simplificando os dilemas e construindo projetos centrados nas pessoas”, detalha o autor.
O caminho para a mudança
Marco Ornellas dá o recado: é preciso olhar para fora e para o futuro e prestar atenção no mundo; olhar para dentro e (re)desenhar constantemente nossas organizações, e finalmente se movimentar e agir.
E apresenta o perfil de um verdadeiro DesigneRH:
– FUTURISTA: abre mão do conhecido, explora o desconhecido, questiona as certezas, desenha possibilidades
– INOVADOR: desenvolve processos centrados nas pessoas com ousadia e positivismo
– TECNOLÓGICO: é um analista de dados – HR Analytics
– GERA IMPACTO: tem um propósito e cuida da comunidade, entorno e a sociedade como um todo