Durante a execução de uma obra, ajustes e modificações são inevitáveis — seja por questões técnicas, mudanças de escopo ou imprevistos no canteiro. Para garantir que todas essas alterações sejam devidamente documentadas, existe uma prática fundamental: o As Built. Trata-se do registro final da edificação, que mostra exatamente como ela foi construída, considerando todas as divergências em relação ao projeto original.
Mais do que uma formalidade, esse material técnico oferece segurança jurídica, facilita futuras intervenções e serve como um guia confiável para a gestão e manutenção da edificação.
Ao longo deste conteúdo, você vai entender como funciona o As Built, quais são seus principais benefícios, os tipos existentes, como é realizado na prática e como a tecnologia tem modernizado esse processo, tornando-o mais preciso e eficiente.
Se você atua no setor da construção e busca entregar obras mais organizadas, seguras e bem documentadas, este artigo é para você.
O que é As Built?
O termo “As Built” vem do inglês e significa literalmente “como construído”. Na prática, ele representa um conjunto de documentos técnicos — como plantas, desenhos, esquemas e memoriais — que mostram como a obra foi realmente executada, e não apenas como foi planejada no projeto inicial.
Durante a execução de uma construção, é comum que ocorram alterações por diversos motivos: ajustes no canteiro de obras, mudanças solicitadas pelo cliente, imprevistos técnicos ou até mesmo adaptações para melhorar o desempenho do projeto. Essas mudanças nem sempre são registradas nos documentos originais, o que pode gerar confusão no futuro.
É aí que entra o projeto As Built. Ele atualiza todas as informações do projeto para refletir exatamente como a obra foi finalizada. Isso inclui a localização precisa de paredes, tubulações, redes elétricas, sistemas de ar-condicionado, entre outros elementos estruturais e técnicos.
Além de garantir a fidelidade entre o que está no papel e o que foi construído, o As Built é essencial para facilitar manutenções, reformas futuras, ampliações e até mesmo para fins legais e de documentação junto a órgãos públicos.
Por que realizar um projeto As Built?
Registrar as mudanças feitas durante a execução de uma obra é essencial para garantir transparência, segurança e eficiência no uso futuro da edificação. É exatamente isso que o projeto As Built oferece: uma representação fiel do que foi efetivamente construído, com todos os ajustes que ocorreram ao longo do caminho.
Confira os principais motivos para investir nesse tipo de documentação:
1. Documentação precisa da construção
Durante a obra, alterações acontecem — seja por adequações técnicas, solicitações do cliente ou imprevistos. O As Built registra essas mudanças, criando uma documentação completa e atualizada do que foi feito.
2. Agilidade em manutenções e reparos
Com as plantas atualizadas, localizar redes elétricas, hidráulicas ou estruturas específicas torna-se muito mais fácil. Isso reduz erros em manutenções futuras e evita desperdício de tempo e recursos.
3. Mais segurança e menos riscos
Ter um histórico detalhado da obra reduz a chance de acidentes ou danos durante intervenções. Isso protege não só o imóvel, mas também os profissionais envolvidos em eventuais obras futuras.
4. Facilidade para reformas e ampliações
Caso o imóvel precise ser ampliado ou reformado no futuro, o As Built será a base ideal para novos projetos, facilitando o trabalho de engenheiros e arquitetos.
5. Conformidade com normas e exigências legais
Em muitas cidades, esse tipo de documentação é exigido por órgãos públicos para obtenção de licenças ou regularizações. Estar em dia com esses requisitos evita problemas burocráticos.
Quais são os tipos de projetos As Built?
Os projetos As Built podem abranger diferentes áreas dentro de uma obra, dependendo do tipo de construção e da complexidade do empreendimento. Eles não se limitam apenas à planta arquitetônica — na verdade, o ideal é que cada disciplina técnica envolvida na execução da obra também tenha sua versão atualizada.
Veja os principais tipos:
As Built Arquitetônico
É o mais comum e apresenta as plantas com todas as modificações realizadas em relação ao projeto original, como mudanças em paredes, portas, janelas e acabamentos. Ele mostra com exatidão a configuração final dos ambientes.
As Built Estrutural
Documenta alterações nas estruturas de concreto, metálicas ou de madeira, como vigas, pilares, lajes e fundações. Esse tipo é essencial para garantir a segurança e integridade da edificação em futuras intervenções.
As Built Elétrico
Registra a localização real dos pontos de energia, quadros de distribuição, fiações e tubulações elétricas. Facilita muito o trabalho de manutenção ou ampliação do sistema elétrico.
As Built Hidrossanitário
Indica onde estão instaladas tubulações de água, esgoto, reservatórios, ralos e outros componentes do sistema hidráulico e sanitário. Ajuda a evitar perfurações indevidas em reformas.
As Built de Sistemas Especiais
Inclui redes de telefonia, internet, automação, climatização (HVAC), segurança e incêndio. Em projetos corporativos, industriais ou de grande porte, esse tipo é cada vez mais relevante.
Como o As Built é feito?
A elaboração de um projeto As Built exige um processo técnico detalhado, que envolve levantamento em campo, análise crítica dos documentos originais e atualização dos desenhos técnicos conforme a realidade da construção.
É uma etapa que deve ser conduzida por profissionais especializados, como engenheiros, arquitetos ou técnicos com experiência em projetos executivos.
Veja como funciona, passo a passo:
1. Reunião inicial e análise da documentação original
O processo começa com o levantamento de todas as plantas e projetos aprovados anteriormente, incluindo projetos arquitetônicos, estruturais, elétricos, hidráulicos e complementares.
Essa documentação serve como base para identificar quais informações precisam ser verificadas ou atualizadas.
2. Visitas técnicas e levantamento em campo
Nesta fase, uma equipe vai até a obra (já finalizada ou em fase de conclusão) para comparar o que está construído com o que foi planejado. Esse levantamento pode ser feito de forma manual, com trenas e instrumentos de medição, ou com o auxílio de tecnologias como:
- Laser Scanner 3D – gera nuvens de pontos e modelos digitais com alta precisão;
- Drones – usados para captar imagens aéreas em grandes áreas externas;
- Ferramentas BIM – para integrar dados em ambientes digitais e facilitar a modelagem.
3. Registro das divergências e atualizações
Durante o levantamento, qualquer diferença entre o projeto original e a execução real deve ser documentada com fotos, anotações e medições. Essas alterações podem incluir:
- Mudanças na posição de paredes ou aberturas;
- Substituição de materiais ou elementos construtivos;
- Alterações nos sistemas elétricos, hidráulicos ou estruturais;
- Adições ou remoções de itens que não constavam no projeto inicial.
4. Atualização dos desenhos técnicos
Com todas as informações coletadas em campo, os profissionais atualizam as plantas técnicas utilizando softwares de desenho (como AutoCAD, Revit ou similares). O objetivo é representar, com precisão, como a obra foi de fato construída.
Esses desenhos atualizados devem seguir as normas técnicas vigentes e conter todas as legendas, cotas e detalhes necessários para facilitar a leitura e interpretação futura.
5. Revisão técnica e entrega final
Antes da entrega, o material passa por uma revisão completa para garantir a consistência entre os dados levantados e os desenhos finais. O resultado é um conjunto de documentos técnicos — em formato digital e/ou impresso — que refletem com exatidão o estado final da obra.
Esse conjunto pode incluir:
- Plantas arquitetônicas e estruturais atualizadas;
- Esquemas elétricos e hidráulicos corrigidos;
- Memorial descritivo com as alterações relevantes;
- Relatório fotográfico do levantamento em campo.
Como utilizar tecnologias para elaboração de As Built?
A aplicação de tecnologias modernas na elaboração de projetos As Built tem transformado a forma como o setor da construção civil documenta e registra obras finalizadas. Ferramentas digitais oferecem mais precisão, agilidade e confiabilidade, além de facilitar o acesso e o uso das informações ao longo de todo o ciclo de vida da edificação.
A seguir, conheça as principais tecnologias utilizadas nesse processo e como elas contribuem para um As Built mais eficiente:
Levantamento com Laser Scanner 3D
Uma das principais inovações nesse cenário é o uso do laser scanner 3D. Esse equipamento realiza o escaneamento do ambiente construído, capturando milhões de pontos que formam uma nuvem digital em três dimensões.
Essa nuvem de pontos permite gerar plantas detalhadas e modelos 3D altamente fiéis à realidade da obra. Com isso, o levantamento se torna mais rápido, preciso e seguro, especialmente em construções complexas ou em locais de difícil acesso.
Modelagem BIM (Building Information Modeling)
Outro recurso cada vez mais presente nos projetos As Built é a modelagem BIM (Building Information Modeling). Diferente dos desenhos 2D tradicionais, o BIM cria um modelo digital inteligente que integra todas as informações da edificação — desde a arquitetura e estrutura até os sistemas elétricos, hidráulicos e especiais.
Essa abordagem permite visualizar o imóvel como um todo e simular interferências, reformas ou manutenções futuras. Além disso, o BIM melhora a comunicação entre as equipes e centraliza as informações em um único modelo atualizado.
Uso de drones para inspeções aéreas
Em ambientes externos ou construções de grande escala, os drones também desempenham um papel fundamental. Eles possibilitam capturas aéreas em alta resolução, úteis para registrar telhados, fachadas, áreas externas e terrenos.
Com o uso de softwares de fotogrametria, é possível transformar essas imagens em modelos tridimensionais ou plantas topográficas precisas. Isso facilita a documentação final da obra, principalmente em empreendimentos que exigem uma visão macro do terreno.
Além disso, a utilização de tablets e smartphones por técnicos e engenheiros em campo permite o registro imediato de alterações durante as visitas.
Esses dispositivos, aliados a aplicativos de engenharia, possibilitam a anotação de mudanças, o registro fotográfico com geolocalização e o envio das informações em tempo real para a equipe responsável pelo projeto. Esse dinamismo evita retrabalho e garante que as atualizações estejam sempre baseadas em dados reais.
Aplicativos e dispositivos móveis
Por fim, a integração com plataformas em nuvem fecha o ciclo tecnológico do As Built moderno. Ao armazenar os arquivos e modelos em ambientes digitais acessíveis, é possível compartilhar documentos com todas as partes envolvidas, manter versões atualizadas e garantir rastreabilidade de cada alteração feita.
Isso proporciona mais segurança nas decisões futuras e torna o projeto As Built uma ferramenta estratégica de longo prazo, tanto para manutenção quanto para gestão patrimonial.
Ter um projeto As Built bem executado é como contar com um manual detalhado do seu empreendimento — ele registra tudo o que realmente foi feito, facilitando desde manutenções até expansões futuras.
E, assim como um bom manual depende de informações precisas e organizadas, a eficiência no canteiro de obras depende de tecnologias que garantam o controle em tempo real de cada etapa da construção.
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